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terça-feira, 10 de maio de 2011

Teco Padaratz dribla o medo e põe o surfe na onda de 2016: ‘O Rio é o cara’

Entre lançamento de CD e filme, dono da etapa brasileira do Circuito Mundial vibrava com as ações da polícia carioca: ‘Hoje me sinto mais seguro aqui’

Entre uma e outra viagem para divulgar seu novo CD, Teco Padaratz, em Florianópolis, sentado no sofá de casa e ao lado da mãe, assistiu pela TV à ação da polícia no Complexo do Alemão, no fim do ano passado. Era um alívio para quem ainda oscilava entre a certeza de ter tomado a decisão comercial correta e o medo de expor a elite do surfe aos possíveis riscos de uma metrópole. A pacata Imbituba, que recebeu a etapa brasileira por oito anos, ficou pequena. O Rio de Janeiro, então, aproveitou a onda das Olimpíadas de 2016 para voltar a ser o Brasil no calendário do Circuito Mundial. O Rio Pro começa nesta quarta-feira, e o SporTV.com transmite ao vivo.
Surfe Teco Padaratz Mundial do Rio (Foto: Gabriele Lomba / Globoesporte.com)Teco em uma cobertura, a poucos metros do palanque (Foto: Gabriele Lomba / Globoesporte.com)
- Vi que era hora de passar para outro estágio. Romário que me desculpe, mas o Rio é o cara. Tive medo da violência sim, mas hoje me sinto mais seguro aqui do que naquela época – diz Teco, lembrando-se de 2001, último ano em que a cidade recebeu um campeonato mundial (em 2002 a etapa foi em Saquarema).
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Desde 2009 havia pressão de patrocinadores para que a etapa fosse transferida. Imbituba carregava o surfe nas costas a duras penas. A cidade não comportava, por exemplo, boa conexão de internet, condição necessária para um campeonato com transmissão em todo o mundo.

- Lá em Santa Catarina também é mais difícil conseguir parceiros.
Teco Padaratz Indonésia (Foto: Divulgação)Teco Padaratz na Indonésia, um dos lugares que
estarão em seu filme (Foto: Divulgação)
O principal parceiro de Teco foi o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Eles se conheceram na época em que a etapa ainda era na cidade. A federação de surfe local, em briga política, ameaçava não pagar as premiações. Para que o país não passasse por essa vergonha, o surfista recorreu ao então “prefeitinho” da Barra.

Teco passou a frequentar a casa da “Duda”, de quem sempre ouvia a promessa de levar de volta ao Rio o Mundial. Mas o catarinense tinha feito um acordo com o então governador de seu estado. No ano passado, com o fim do mandato, aceitou a proposta.

- O Brasil é galera, é entusiasmo. Nunca vai se comparar à qualidade de ondas como Pipeline e Teahupoo, mas podemos mostrar que temos ondas boas sim – disse.

Teco tem ficado direto no Rio há praticamente um mês. Deixa a cidade para visitar a família em Florianópolis e para divulgar o CD “Verdade Sempre”. Também acompanha a finalização de um filme sobre sua história. “Cut Back”, dirigido por Alex Miranda, vai contar a vida do surfista bicampeão do WQS. Um surfista que foi empurrado para um sonho.
Teco Padaratz CD (Foto: Divulgação)Capa do CD de Teco Padaratz (Foto: Divulgação)
Ao lado de Fábio Gouveia, Teco protagonizou o projeto idealizado por Avelino Bastos e financiado por Alfio Lagnado, dois empresários do mundo do surfe. A dupla correu o mundo e escancarou as portas do Circuito Mundial para o surfe brasileiro.

- Aprendi que brasileiro, para ser campeão mundial, tem que virar gringo.
Fabinho teve seu filme lançado com sucesso em 2004. O de Teco, garante o surfista, não é apenas um filme de surfe.

- O filme do Teco é mais interior, menos festa e mais drama de evolução pessoal – conta o diretor.

WT RJ !

09/05/2011 12h23 - Atualizado em 09/05/2011 20h28

Do píer, Pepê e Rico a Slater, Irons e Occy, Rio revive sua história no surfe

Após dez anos sem receber a elite do Circuito Mundial, cidade aproveita a onda para resgatar a cultura de um esporte que nasceu em meio à ditadura

Era uma época em que carregar uma prancha - de 12kg, 15kg - despertava desconfiança. Recém-nascido na década de 60, o surfe carioca cresceu em meio à ditadura militar. E dois verdadeiros meninos do Rio, Rico de Souza e Pepê Lopes, abriram as portas da cidade para o esporte. Anos mais tarde, um Kelly Slater ainda cabeludo conquistou ali o primeiro de seus dez títulos mundiais, em 1992. Já hexa e careca, ele estava de férias quando o Arpoador viu Andy Irons aparecer em 2001, mesmo ano em que Mark Occhilupo, hoje aposentado, quase foi parar numa delegacia. A cidade, que na última década ficou à margem do Circuito Mundial, volta a respirar surfe com o Rio Pro, que começa nesta quarta-feira, na Barra da Tijuca ou, dependendo das condições, no Arpoador. O SporTV.com vai transmitir ao vivo. Leia mais notícias de surfe.
Campeonato Skol no píer de Ipanema em 1972 (Foto: Divulgação)Campeonato no píer de Ipanema em 1972 (Foto: Divulgação / em parceria com Rico Surf)
Rico de Souza, embaixador do surfe no Brasil, guarda com carinho todas as lembranças. Da primeira prancha de fibra, em 1966, das primeiras ondas no píer de Ipanema, na década de 70. O pico era ponto de encontro da vanguarda carioca. Ditava moda, comportamento. Fernando Gabeira, Gal Costa,... Eram intelectuais, artistas, jornalistas. E o surfe, de seu jeito, ousava desrespeitar as leis impostas pela ditadura. Gabeira, hoje, acompanha a filha, Maya, uma das convidadas pela organização do campeonato.

Houve época em que era proibido surfar entre 8h e 14h. E só era permitido pegar onda até 200 metros dos cantos das praias.
Rico surfando no píer de Ipanema (Foto: Arquivo Pessoal)Rico de Souza surfando no píer de Ipanema
(Foto: Arquivo Pessoal / Rico Surf)
- Lembro de diversas vezes estar surfando e minha prancha ser apreendida e ter de ir buscá-la no batalhão da Polícia Militar, algumas vezes no de Copacabana ou no da São Clemente – escreveu Rico em seu blog.

As ondas do píer se formavam com perfeição por conta da dragagem. A areia retirada da água era depositada ali ao lado, e o local ganhou o apelido de Dunas de Ipanema. As dunas da Gal.

Foi em uma direita do píer que Rico conheceu Pepê, então um garoto de 13 anos, louro e cabeludo. No fim do dia, já eram amigos. Passou a fazer algumas pranchas para o menino que, em 1976, venceu a primeira etapa do Mundial realizada no Brasil. Onde? No Arpoador, claro. Pepê, que depois se tornou campeão mundial de voo livre, morreu em 1991, em um acidente no Japão.

Do título de Pepê no Arpoador até 2001, último ano do Mundial na cidade, foram muitas histórias nas areias cariocas. A maior delas em 1992, com a primeira vitória de Slater. Em 1994, Plínio Ribas, irmão de Victor Ribas, perdeu uma polêmica final de WQS para o careca - ainda cabeludo. Plínio saiu do mar - naquele dia com ondas miúdas - da Barra da Tijuca aplaudido. Slater, vaiado. O público não concordava com as notas.

Mais tarde, o americano disse que Plínio era o melhor surfista em ondas pequenas que ele já tinha visto. Mal sabia que o brasileiro pouco sabia nadar. Só competia bem quando o mar estava pequeno.

Em 2000, um já polêmico Sunny Garcia sagrou-se campeão na Barra da Tijuca. Seu primeiro e único título mundial. O havaiano, hoje com 40 anos e uma passagem pela cadeia - três meses, por sonegação fiscal - ainda disputa campeonatos e, portanto, ainda pode voltar para um WQS.
surfe Mark Occhilupo Mundial Arpoador 2001 (Foto: ASP)Occy no Mundial de 2001, no Arpoador (Foto: ASP)
Em 2001, ano da despedida do Rio, o australiano Mark Occhilupo teve de ser escoltado do palanque até o mar para disputar as semifinais. Isso porque, minutos antes, ele tinha sido visto com um cigarro de maconha na pedra do Arpoador. Occy não compete mais.
- Não era eu – disse, com um sorriso maroto, ao GLOBOESPORTE.COM.
Daquele ano, fica ainda a lembrança de Andy Irons, que aproveitava a ausência de Slater para mostrar seu talento no Circuito Mundial. Na estreia da etapa carioca, fez a maior pontuação – 25,00 pontos em 30 possíveis. Mas caiu na seguinte, diante de Trent Munro. O australiano seguiu até a final e derrotou Occy para ser campeão.
Foi uma temporada que terminou cedo, com apenas cinco etapas. As outras foram canceladas depois dos atentados de 11 de setembro. O americano CJ Hobgood foi o campeão. Um título que, até hoje, ainda não o convenceu. Diz ser "um campeão esquecido".

Andy naquele ano terminou em décimo. Nas três temporadas seguintes, conquistou o caneco. O último deles na catarinense Imbituba, que até o ano passado recebeu a etapa brasileira. Andy morreu em novembro, sob circunstâncias ainda não esclarecidas. Slater, seu maior rival, não sabe se continua ou para. O maior da história volta à cidade que primeiro o consagrou.
Adriano Mineirinho, Rico e Eric de Souza (Foto: Arquivo Pessoal)Mineirinho aos 13 anos, com Rico e Eric de Souza
(Foto: Arquivo Pessoal / Rico Surf)
O Brasil terá seis representantes no Rio Pro, apenas um deles nascido no estado: Raoni Monteiro, de Saquarema. A maior esperança está na prancha de um paulista do Guarujá: Adriano de Souza, o Mineirinho. Quarto colocado no ranking, ele tem 24 anos. Dava os primeiros passos naquele longíquo 1992. Tinha 14 quando o Circuito Mundial passou pelo Rio.

- Estou superinstigado. Sei que vai todo estar torcendo – disse.