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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Brasucas contam o desafio de surfar as ondas mais perigosas da história

Burle, Koxa, Vitor Faria, Gordo e Scooby relembram dia em que encararam o maior mar já registrado em Teahupoo, a praia dos 'crânios quebrados'


O dia 27 de agosto de 2011 ficou marcado na história do surfe mundial e, especialmente, na vida de cinco brasileiros. Carlos Burle, Rodrigo Koxa, Vitor Faria, Felipe "Gordo" Cesarano e Pedro Scooby encararam a onda mais poderosa do mundo, Teahupoo, no Taiti, num sábado em que a praia dos "crânios quebrados" recebeu a maior ondulação já registrada nesta ilha do Pacífico Sul. No vídeo ao lado, você pode conferir um relato do quinteto verde-amarelo, que fez o que nem o maior surfista de todos os tempos, Kelly Slater, teve coragem de fazer.
- Era o céu ou o inferno. O tubo ou a vaca da vida  - explicou Cesarano, tentando trazudir as emoções daquele dia.
surfe Felipe Cesarano Gordo Taiti gigante (Foto: Steve Robertson / ASP)
Felipe 'Gordo' Cesarano encara as perigosas ondas de Teahupoo, no Taiti (Foto: Steve Robertson / ASP)
A previsão da entrada da ondulação histórica pegou de surpresa os maiores big riders tupiniquins. As passagens foram compradas em cima da hora e, por muito pouco, Rodrigo Koxa não embarcou com problemas no passaporte. Em lua de mel com a atriz Luana Piovani, Pedro Scooby estava em outra ilha da Polinésia Francesa e ficou sabendo do swell monstruoso por acaso.
- Estava curtindo com a Luana aquele paraíso que é Bora Bora. Só água cristalina, calminha, quando resolvi abrir o email depois de alguns dias sem acessar a internet. Levei um susto e vi que tinham centenas de mensagens do meu chefe de equipe avisando da chegada de um swell descomunal em Teahupoo. Expliquei para a Luana, e ela me deu a maior força. Seria a minha estreia no tow in (surfe rebocado por um jet ski) e não queria perder essa oportunidade de jeito nenhum - disse o carioca.
burle scooby cesarano vitor koxa (Foto: Arquivo Pessoal)Burle, Scooby, Gordo, Vitor e Koxa gravam na Globo
(Foto: Arquivo Pessoal)
Scooby tem apenas 23 anos anos de idade. Quando ainda pensava em "botar pra baixo nas marolas" do Recreio dos Bandeirantes, Carlos Burle já se consolidava entre os maiores nomes do surfe de ondas grandes do mundo. Assim como Scooby, Burle também iniciou Cesarano e outras grandes feras na modalidade mais extrema do esporte. Maya Gabeira, filha do jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira, foi outra aluna dedicada do professor Burle que também embarcou ao Taiti atrás do swell histórico.
Na mesma semana em que era esperada a chegada da mega ondulação, os melhores surfistas de "ondinhas" do planeta estavam no Taiti para a disputa da etapa de Teahupoo do Circuito Mundial (WT). O campeonato, vencido depois pelo mito Kelly Slater, vinha transcorrendo normalmente até a paralização no dia 27 de agosto. O governo local emitiu um alerta proibindo a saída de embarcações por conta do perigo no mar. Foi a deixa para que os principais caçadores de ondas gigantes pegassem seus jet skis e entrassem Pacífico a dentro até a chegada no canal onde quebravam os maiores tubos já vistos na praia dos "crânios quebrados".
- Chegamos lá bem cedo. Quando olhei para um dos barcos, vi ninguém menos do que o decacampeão do mundo, Kelly Slater, olhando para o mar, sem acreditar no que estava vendo. Todos os tops do WT estavam lá incrédulos. Vi o Slater de colete, preparado no barco, mas ele acabou amarelando e não entrou - contou Felipe Cesarano.
As maiores ondas do dia ultrapassavam sete metros. Um número que não supera em altura as "montanhas" que esses surfistas estão acostumados a desafiar em outros lugares. Tricampeão mundial de ondas grandes, Burle já encarou uma parede de 22m em Mavericks, na Califórnia (EUA), que durante muito tempo ficou registrada no Guinnes como a maior já surfada.
- Teahupoo tem uma particularidade em relação às demais ondas. Ela é considerada a mais perigosa do mundo não pela altura, mas pelo que vem embaixo dela e pelo volume de água. A profundidade de menos de um metro dos corais faz com que a onda não só aumente de volume, como também ganhe velocidade até quebrar na rasa bancada. Isso faz com que Teahupoo seja um dos poucos lugares no mundo em que a onda ofereça grande risco para o surfista mesmo com o mar estando pequeno - explicou Burle.
Sem o auxílio dos jet skis seria impossível entrar em ondas deste tamanho e velocidade. Por isso, os surfistas se dividem em duplas e se revezam na hora de pilotar o jet para rebocar o companheiro com uma corda. Parceiros de longa data, Rodrigo Koxa e Vitor Faria estavam nesse revezamento, quando o segundo foi presenteado com um série incrível, que redeu destaque nos principais veículos do segmento.
- Graças ao Koxa, consegui entrar na maior onda do dia. Era tanta força que torci o meu joelho e levei um caldo de uns 40s. Com certeza foi a onda da minha vida e um dia muito especial - comemorou Vitor.
Com a lesão no joelho, Vitor teve que sair direto para hospital. A ida e vinda de ambulâncias era contante naquele dia. Maya Gabeira também precisou ser resgatada depois ser atropelada por uma enorme série de ondas, quando tentava voltar remando para o canal. Cesarano levou três pontos na boca, nove no queixo, quatro no joelho e seis no pé. Koxa também sofreu ao rodar dentro de um dos maiores tubos do dia.
- Quando fui ver as imagens, fiquei impressionado com quantas vezes eu rodei dentro do tubo depois de cair. O bicampeão mundial Mick Fanning ficou gritando para o Vitor me resgatar com o jet depois dessa vaca.  Vi o vídeo que mostra como ele ficou desesperado com o meu caldo - disse Koxa, que cortou o braço depois da queda.

Na crista da fama, Scooby deixa o que for para ir atrás de ondas gigantes

 


Ele tem 23 anos e, desde os 17, é pago para correr o mundo atrás de ondas perfeitas. Mas, nos últimos meses, o perfeito ficou pequeno. Pedro “Scooby” Viana entrou em um desafio maior. Bem maior. Começou a se arriscar em ondas gigantes, com a ajuda de dois especialistas: Carlos Burle e Felipe "Gordo" Cesarano. A estreia no tow-in, surfe puxado por jet-ski, foi em Teahupoo, a praia dos crânios quebrados. E não teve nem direito a ensaio. Curtia a lua de mel em Bora Bora com a atriz Luana Piovani quando soube da ondulação que chegava ao Taiti. Se ela ficou chateada?
-  Abandonei tudo. Ela me deu maior força. Qualquer outra mulher poderia falar “Não acredito que vai me abandonar no meio da lua de mel”. Mas ela me apoiou. Foi para a Califórnia e me esperou lá. Ela não gosta de assistir ao vivo. É melhor ver só por foto. Fica bonito - ri.
Surfe Pedro Scooby Teahupoo  (Foto: Brian Billman / Divulgação)
Pedro Scooby no dia de surfe extremo em Teahupoo, no Taiti (Foto: Brian Billman / Divulgação)
A sessão de Teahupoo foi especialmente perigosa (veja na reportagem do Esporte Espetacular). Maya Gabeira, que, assim como ele, estava sendo puxada por Burle, levou cinco ondas na cabeça. Felipe Cesarano, o Gordo, e Rodrigo "Koxa" também contabilizaram cortes e lesões. Bruce Irons, irmão de Andy Irons, foi outro que surfou naquele 27 de agosto. Kelly Slater, decacampeão mundial, estava ali perto, mas não entrou no mar.
- Com 23 anos peguei uma onda que muita gente vai embora dessa vida sem pegar. Vai marcar minha carreira pelo resto da vida - conta Scooby, que participará do programa da TV Globo "Nas Ondas 3".
Muita gente não trocaria um escritório por uma onda de 50 pés (cerca de 15m) na cabeça"
Scooby
No fim da adolescência, cansado de competir em ondas ruins, Scooby decidiu virar freesurfer. Hoje, só disputa os campeonatos que tem vontade. Já a paixão pelas ondas grandes surgiu meio por acaso, no ano passado. Ele estava em Puerto Escondido, no México, quando se viu diante de uma oportunidade de ouro. E a encarou. Surfou uma das maiores ondas de uma sessão épica e, com ela, concorreu a dois prêmios conceituados. Era a senha de que estava remando para o lado certo.
-  O freesurfer não é reconhecido pelo título que ganha, e sim pelo talento. Roda o mundo atrás das melhores ondas. O big rider, além disso, roda o mundo buscando as maiores ondas. Não posso dizer que sou um big rider. Sou um freesurfer. Gosto de fazer de tudo. Sempre me destaquei por causa dos meus aéreos, mas quero ser um cara completo.

Viajar a lugares paradisíacos em busca de ondas perfeitas. É o emprego dos sonhos?

- Sim e não. Eu vou do céu ao inferno. Sim, eu pego as melhores ondas do mundo, vou aos lugares mais perfeitos, ganho para isso, faço o que gosto. Mas muita gente não trocaria um escritório do centro da cidade por uma onda de 50 pés (cerca de 15m) na cabeça. Tanto que o grupo de surfistas de ondas grandes é bem pequeno.
Surfe Pedro Scooby Luana Piovani Teahupoo  (Foto: Brian Billman / Divulgação)
Casal em lua de mel (Foto: Arquivo pessoal)
Na vida pessoal, Scooby também está em uma nova fase. Completou 23 anos no mês passado e, neste, recebeu a notícia de que será pai.
- Fiquei emocionado. Sou um cara muito família. Quando você é uma pessoa assim, sempre imagina encontrar uma mulher que ame e construir uma família.
O mundo dos artistas ainda é novidade. Assusta um pouco. Mas para quem está acostumado a encarar ondas gigantes...
- Não me incomodo porque na maioria das vezes sei que não é comigo. Há assédio, claro. Não há como evitar, impedir que fiquem em cima. Tento ficar tranquilo e não ligar.
Luana e Scooby se conheceram durante o Carnaval deste ano, no Rio. Pouco tempo depois já estavam morando juntos, no Leblon. E o que antes, para ele, era apenas uma trivialidade do dia a dia passou a ser um momento, às vezes, de tensão.
Luana Piovani e Pedro Scooby no Rio Pro (Foto: Gabriele Lomba / GLOBOESPORTE.COM)
Durante o Rio Pro, em maio (Foto: Gabriele Lomba )
- Eu me incomodo quando quero ficar só eu e ela e invadem esse momento. Você está passeando na rua e tentam invadir a sua privacidade. Não é uma coisa legal você descer para comprar um jornal e vir alguém fotografar. Nunca fui desse meio. Vivo no mundo do surfe. Não virei um artista, nada disso. Ela continua sendo atriz, respeito o trabalho dela, e ela respeita o meu - conta o surfista que, em breve, terá um programa em um canal de TV por assinatura.
No fim do ano, Scooby vai para o Havaí. Sonha conhecer a mítica onda de Jaws, na ilha de Maui. Luana, de novo, acompanhará apenas de longe. Por fotos.
- Ela não vai poder ir por causa do bebê...
Surfe Pedro Scooby Pipeline (Foto: Divulgação)
Pedro Scooby voltará a Pipeline no fim do ano(Foto: Divulgação)

A 30s do fim, Slater vence tira-teima com Wright e é penta em Trestles

Americano responde rápido após sofrer virada, derrota o australiano de 21 anos na terceira decisão seguida entre os dois e abre vantagem no ranking


Surfe - Kelly Slater campeão do Hurley Pro (Foto: Divulgação/ASP)Kelly Slater bateu Wright na terceira final seguida
entre os dois surfistas (Foto: Divulgação/ASP)
No fim de agosto, Kelly Slater derrotou Owen Wright na final em Teahupoo, no Taiti. Dez dias depois, em Nova York, o australiano deu o troco. Nesta quarta-feira, eles fizeram o tira-teima em Trestles, na Califórnia, na sétima etapa do Circuito Mundial. Era a terceira decisão seguida entre os dois em menos de mês, feito inédito no Circuito Mundial. E o equilíbrio se manteve. Com duas viradas no último minuto, os finalistas saíram da água sem saber as notas. O decacampeão de 39 anos já estava no chuveiro quando, enfim, recebeu o resultado e pôde festejar seu quinto título na praia californiana, desta vez no confronto de gerações com o concorrente de 21 anos.
Terceira vitória na temporada e 48ª na carreira, o pentacampeonato em Trestles fez Slater conseguiu ampliar sua vantagem na liderança do ranking na busca pelo 11º título mundial. Wright aparece na segunda posição. Heitor Alves foi o melhor brasileiro da etapa e caiu na semifinal, justamente para Kelly Slater, quando perdeu por 18,40 a 16,67.
- Owen é um grande competidor, ele não tem pontos fracos. Acho que tive sorte naquela última troca. Eu fiquei sempre pegando a primeira onda, e depois vinha uma melhor. Quando peguei prioridade, quis esperar por uma onda boa. Mas não estava vindo nada, eu o vi dando um grande aéreo e comecei a me preocupar - afirmou Slater ao receber o troféu.
Surfe - Kelly Slater campeão do Hurley Pro (Foto: Divulgação/ASP)
Na última onda da final, Kelly Slater consegue bela manobra para garantir o título (Foto: Divulgação/ASP)
Apesar da derrota nesta quarta, Wright deixou a água satisfeito por brigar de igual para igual com o decacampeão.
- Estou aproveitando a rivalidade. Tivemos algumas ótimas baterias, e as últimas três finais foram ótimas - afirmou.
Surfe - Kelly Slater campeão do Hurley Pro (Foto: Divulgação/ASP)Finalistas das últimas três etapas, Wright e Slater
convesam no pódio (Foto: Divulgação/ASP)
O australiano começou a decisão melhor. Slater pegou a primeira onda da bateria, mas não conseguiu muita coisa e tirou um 3,67. Owen veio logo atrás e teve mais sucesso, abrindo a disputa com um 6,50.
Nenhum dos dois estava disposto a perder o tira-teima e começaram a se alternar na liderança. Primeiro foi o americano, que conseguiu uma boa onda para tirar 7,67. O aussie respondeu rápido, tirou 7,37, e deixou o adversário precisando de um 6,20. Ficou por pouco na quarta onda de Kelly Slater, que tirou um 6,00.
O melhor ainda estava por vir, e os dois travaram uma emocionante disputa na água. Slater tomou a vantagem faltando 6m46s para o fim, com um 8,50. Wright tentou responder na onda seguinte, mas o 7,87 o manteve em segundo, precisando de 8,31.
O mar californiano parecia que iria garantir o quinto título do surfista americano, mas, faltando cerca de um minuto para o fim, o australiano foi com tudo para reassumir a liderança outra vez, deu um belo aéreo. Não deu nem tempo de comemorar. Kelly Slater mostrou mais uma vez por que é decacampeão mundial e tirou mais uma bela onda da manga.
O resultado oficial ainda não tinha saído, mas a torcida americana já comemorava. Owen Wright saía devagar da água, ainda acreditando em um desfecho positivo. Kelly Slater correu para os monitores e viu as notas dos juízes saindo aos poucos. O aussie tinha conseguido 8,87, mais do que precisava. Mas ele havia tirado um 9,00, deixando o somatório em 17,50 a 16,74. Festa em Trestles e 2 a 1 para o decacampeão no tira-teima.
No dia 4 de outubro, o Circuito Mundial vai para a França. Resta saber se Slater e Wright se encontrarão mais uma vez na final.
Surfe - Kelly Slater campeão do Hurley Pro (Foto: Divulgação/ASP)
Kelly Slater levanta o troféu depois de conquistar o pentacampeonato em Trestles (Foto: Divulgação/ASP)
Confira os resultados da etapa de Trestles:
Final:
Kelly Slater (EUA) 17,50, Owen Wright (AUS) 16,74
Semifinais:
Kelly Slater (EUA) 18,40, Heitor Alves (BRA) 16,57
Owen Wright (AUS) 14,74, Julian Wilson (AUS) 10,04
Quartas de final:
Heitor Alves (BRA) 12,77, Adriano de Souza (BRA) 12,50
Kelly Slater (EUA) 17,60, Josh Kerr (AUS) 11,07
Owen Wright (AUS) 15,67, Mick Fanning (AUS) 15,67
Julian Wilson (AUS) 18,23, Joel Parkinson (AUS) 14,93
Quinta rodada:
Heitor Alves (BRA) 12,74, Taj Burrow (AUS) 9,80
Josh Kerr (AUS) 15,27, Jeremy Flores (FRA) 12,97
Mick Fanning (AUS) 18,23, Damien Hobgood (EUA) 10,27
Julian Wilson (AUS) 15,67, Adrian Buchan (AUS) 12,37
Veja como fica o ranking após a etapa de Trestles:
1 – Kelly Slater (EUA) 44.950 pontos
2 – Owen Wright (AUS) 39.900
3 – Joel Parkinson (AUS) 35.400
4 – Adriano de Souza, Mineirinho (BRA) 31.950
5 – Josh Kerr (AUS) 30.800
6 – Taj Burrow (AUS) 29.250
7 – Mick Fanning (AUS) 28.200
8 – Jordy Smith (AFS) 27.500
9 – Jeremy Flores (FRA) 23.700
10 – Michel Bourez (TAH) 22.250